Isollyna era uma senhora que aparentava ter uns setenta anos de idade. Em sua casa, ela criava sete gatos pretos. Não deixava de ser uma idosa estranha. Possuía uma longa cabeleira loira, escondida sempre por lenços coloridos. Em sua testa, ela trazia uma verruga enorme e, no centro dessa verruga, notavam-se três pequenos fios de cabelos negros. Fora casada, porém não tinha filhos.
Fonte: Histórias do André victtor
Nunca mais me esqueci de todas as coisas que contavam sobre ela. Agora, vocês também conhecerão a sua história...
Ela era a sétima filha de um sétimo filho. Era, ainda, fruto de um incesto, ou seja, na verdade ela era filha de dois irmãos que, por obra do destino, foram separados quando crianças e entregues para dois donos de circos que passaram por minha cidade entre os anos de 1890 e 1891. Dizem que os irmãos voltaram a se encontrar novamente quinze anos mais tarde, vivendo a partir daí, como casal, uma vida conjugal.
Quando Isollyna nasceu, seus braços tinham a curvatura contrária, ou seja, os cotovelos localizavam-se na parte da frente dos braços. Na sola de seus pés e nas palmas das mãos, Isollyna tinha grossos cascos e, como se isso não bastasse, uma pequena crina nascia na parte de cima de sua cabeça e seguia até o meio de suas costas. Não se sabia o porquê daquilo. Seu parto foi feito na zona rural, sob os cuidados de uma parteira, o que era usual naquela época.
Contam que o seu pai, o senhor Jarbaz, era um homem muito esquisito, suspeito de roubar, naquela região, crias equinas que levava para sua casa dentro de um saco, após esquartejá-las no meio do mato. Parecia que as éguas sentiam a morte dos filhotes, pois choravam por alguns dias, até que os fazendeiros e sitiantes achavam, depois de um tempo, somente as cabeças e os pés daqueles cavalinhos.
O fato de Isollyna ter nascido daquele jeito talvez fosse um castigo para Jarbaz, por ter assassinado vários potrinhos que ainda nem haviam desmamado. Contudo, a menina cresceu e seus problemas foram minimizados por várias cirurgias custeadas pela comunidade rural onde morava. Ela foi levada para fazer correções ortopédicas em são Paulo durante muitos anos.
O tempo passou e seus pais morreram de uma doença desconhecida. Isollyna, já moça, resolveu se casar com um tal de Rovilson, após namorá-lo por poucos meses. Rovilson era um rapaz simples, trabalhador rural e meio beberrão (gostava de tomar umas e outras). Nos finais de semana, ele sempre voltava para casa embriagado e Isollyna lhe dava a maior bronca.
Certo dia, uma sexta-feira de Quaresma, Rovilson acorda assustado com o barulho de trotes que vinha de seu quintal. Parecia que um cavalo furioso rondava a sua casa e se debatia pelas paredes, tentando entrar pela porta principal.
Rovilson gritou várias vezes por sua mulher, Isollyna, porém, ela não estava dentro de casa, havia sumido da cama durante aquela noite. Cada vez que Rovilson a chamava, aquele cavalo relinchava lá fora.
Ele então resolveu sondar por um pequeno buraco da janela de seu quarto. Quando aquele animal veio dos fundos da casa e passou em frente da janela, Rovilson ficou apavorado. Era uma enorme égua branca e possuía uma crina loira com alguns lenços amarrados. Mas, o terror tomou conta de sua mente quando ele viu que estava faltando alguma coisa no animal: A cabeça daquela égua simplesmente não existia!
Rovilson havia se casado com uma mulher que virava a verdadeira mula sem cabeça...
Rezando todas as rezas que conhecia, ele aguardou o dia clarear e desapareceu da vida de Isollyna para sempre. Depois disso, Isollyna nunca mais se casou e seus sete gatos pretos eram suas únicas companhias.
A transformação em mula sem cabeça era o carma que Isollyna tinha que carregar eternamente para, assim, pagar pelo pecado cometido por seu pai.
Talvez isso fosse uma maldição lançada pelo sentimento coletivo de todas aquelas éguas, que tiveram suas crias assassinadas cruelmente no passado...
Fonte: Lendas de sangue
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